Gosto dos
livros. De ler, sim, mas também dos livros. Das histórias que lhes estão
associadas antes e após a leitura, da rede de pormenores ou acontecimentos que
me levaram ao momento em que tenho um livro (um autor, uma história) na mão. Só
o livro em si, enquanto objeto, é já um enriquecimento - ainda que não o venha a
ler (pouco provável mas não impossível) já carrega uma história. Se foi uma
aquisição minha, o que me levou àquela opção? Por vezes foi uma alusão que li
num artigo de jornal ou revista, que ouvi numa crónica da rádio ou numa
reportagem da TV, uma recomendação de alguém no decurso de uma conversa, uma
referência num filme ou outro livro. E, por vezes, ficam ideias ou referências
soltas ou imprecisas, é preciso ir pesquisar. A Net, as livrarias. E, nestas
pesquisas, descobrem-se tantas outras coisas, tantas outras obras, tantos
outros autores. Como gosto desta procura! Esta procura passa a ser a história
que antecede a outra que me propus ler. Passam a ser, já, duas histórias. E, se
o livro foi uma oferta, é outra história, ou outras histórias. Diz-me de quem
ma deu (e pode acontecer que nem a venha a ler mas, mesmo isso, é informação),
em que circunstâncias, se numa comemoração ou para lembrar algo, se tem
dedicatória…
Por vezes
dá-me gozo abrir o armário, tirar os livros todos, a pretexto de os organizar
por temas ou autores, e ir folheando. Revejo anotações ou dedicatórias, ou
simplesmente datas, e relembro as histórias que lhes estão associadas. Algumas
vezes estes gestos levam a segundas ou terceiras leituras. Nunca se lê o mesmo
livro da mesma forma. No final da releitura retiramos outras histórias, outras
emoções, outros conhecimentos (ou vamos em busca deles). Desta arrumação,
também acontece surgirem livros que, estando ali há anos, não cheguei a ler.
Dou-me uma segunda oportunidade. Confesso, por vezes, consigo ter boas
surpresas e descobrir autores, ou obras, que a dada altura não me conseguiram
cativar mas há também obras, e sobretudo autores, que por mais que tente…
Agora, sim, vou
viajar. Vou conhecer pessoas e lugares, sentir cheiros (uns buscados na
memória, outros imaginados), emocionar-me com descrições ou personagens, reler
(tantas vezes) as passagens que mais me tocam. Hão-de vir ao de cima emoções já
vividas, vou imaginar outras nunca experimentadas ou desejar nunca vir a
conhecer. Gosto de apreciar a história propriamente dita, o seu
desenvolvimento, a construção das personagens mas sobretudo a forma como a
história é contada, é isto que me faz apreciar o autor, que me faz querer
terminar o livro e ir em busca de outros. Gosto que o autor me dê oportunidade
de participar na história, não descrevendo fisicamente, de forma exaustiva, as
personagens, porque gosto de fazer as minhas construções e idealizações. Gosto
que me faça criar expectativas e desejar voltar rapidamente à companhia deste
livro. No final, posso até chegar à conclusão que já terei lido coisas
melhores, no entanto, fica sempre como saldo positivo todos os pormenores ou
acontecimentos que antecederam a leitura e os que poderão vir depois – a busca
de um outro livro ou poema, um outro autor, um filme, lugares, um episódio
histórico, um conceito…porque um livro tem muitas histórias agregadas e a
melhor pode ser aquela que ainda não lemos…
concordo. os livros são uma forma de viajarmos em novos mundos
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