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sábado, 27 de julho de 2013

Verde

Quantas histórias carregam estas imagens...a (pequena) história, a (pequena) viagem que me levou até elas e me trouxe delas, o que nelas consta - a terra, os troncos, os ramos, as árvores...quantas histórias para contar...! E, depois destas imagens, quantas mais histórias até elas, quantas mais histórias nelas!











Símbolos nossos - O galo de Barcelos



A bandeira, o fado, o galo de Barcelos estão na moda. É bom de se ver que, por estes tempos, valorizamos o que temos de bom. É bom pensar que não é só uma questão de moda mas sim a mudança em curso.

E é bom ver que os jovens de hoje, filhos de outra geração de jovens, ao contrário dos seus pais, lidam de bem com os nossos símbolos. É bom não se conotar o verde e vermelho com o foleiro, é bom gostar de ouvir fado, é lindo, e fica bem na nossa casa, o vistoso galo de Barcelos!

Quer isto dizer que Portugal está a perder a vergonha de si mesmo? No que aos seus símbolos diz respeito bem pode fazê-lo! Pequenos gestos e intervenções de alguns têm contribuído para esta outra forma de amarmos o que é nosso. Lembro o fulgor e o ânimo com que o Scolari apelou a todos nós o uso da bandeira nacional e como isso mudou a nossa relação com ela, sigo com interesse a actual intervenção da Joana Vasconcelos na reanimação de particularidades da nossa tradição ligadas ao artesanato, ao crochet, ao tricot. Apenas dois exemplos, outros não faltarão.

Mas, o tema é o galo de Barcelos! Emproado, com motivos de sobra para tal, não lhe bastava a vasta crista vermelha, agora há-os para todos os gostos…mais para o clássico (com corações vermelhos e outros motivos coloridos em fundo preto), outros com vestimenta adaptada à tradição de cada região e outros, ainda, todos cheios de estilo, com design actual…

Mas o que sabemos nós do galo de Barcelos? Que história tem por trás? Quem o criou? Eu nada sei, ou melhor, agora já sei alguma coisa porque me despertou a curiosidade e fui pesquisar. Tem por trás uma lenda engraçada. Deixo aqui um pouco dessa história para despertar outras curiosidades.
Criação artística:

O berço desta criação será a freguesia de Galegos Santa Maria e o seu criador artístico (quem terá feito o primeiro galo) terá sido Domingos Côto.


“Com efeito, esta figura típica da louça de Barcelos, de fundo escuro, crista vermelha, pintalgada de corações (o mais vulgar), teve o seu nascimento em Galegos Santa Maria, pela mão do Oleiro Domingos Côto, na década de trinta. Primeiramente o galo era feito à mão, começou depois a ser fabricado à roda e em série, de todos os tamanhos, em quantidades industriais. Hoje corre mundo como embaixador de Portugal. “

“Em 1935 está presente em Genebra, na Exposição de Arte Popular Portuguesa. Um ano mais tarde, esta exposição repete-se, em Lisboa, com um extraordinário sucesso

É com mais convicção que, a partir das décadas de 50 e 60, o Galo de Barcelos se transforma em símbolo do turismo nacional e ícone de identidade de uma nação.”

Lenda:

"Segundo a lenda, os habitantes de Barcelos andavam alarmados com um crime, do qual ainda não se tinha descoberto o criminoso que o cometera. Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo, apesar dos seus juramentos de inocência, que estava apenas de passagem em peregrinação a Santiago de Compostela, em cumprimento duma promessa.

Condenado à forca, o homem pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou: “É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem.

O juiz empurrou o prato para o lado e ignorou o apelo, mas quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Compreendendo o seu erro, o juiz correu para a forca e descobriu que o galego se salvara graças a um nó mal feito. O homem foi imediatamente solto e mandado em paz.

Alguns anos mais tarde, o galego teria voltado a Barcelos para esculpir o Cruzeiro do Senhor do Galo em louvor à Virgem Maria e a São Tiago."

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Viajar Coimbra, a bela (apesar dos seus monstros)


No regresso de viagens (dos outros, porque as minhas são poucas) o comentário invariável é sempre o espanto perante tanta beleza encontrada fora de fronteiras, o desenvolvimento, a diferença…Não consigo deixar de me espantar com tanto espanto até porque, no decurso da visualização da reportagem fotográfica, o meu espanto vai-se reforçando…não com a “tamanha beleza” do que por lá se viu e conheceu mas porque a “tamanha beleza” simplesmente não me gera espanto.

Conheço, de norte a sul, alguns lugares do nosso país. Paisagens urbanas, paisagens rurais, praias, campo, montanhas e verdes, montanhas com mais pedras que verdes, rios e riachos, centros comerciais, lojas e lojinhas, restaurantes, tascas, comidas tradicionais, petiscos, estradas e caminhos de ligar só aqui e ali…coisa pouca! Viajo pouco…mas consumo e assimilo tudo, cada pedacinho por onde passo e volto a passar, cada novo chão que calco, cada paisagem nova onde estou. E, não, não sou uma nacionalista convicta, não penso que em Portugal é que é bom, que somos os melhores…Nada disso. Em muitas coisas, somos até os piores mas não é disso que me apetece contar ou opinar.

Hoje apetece-me contar da cidade onde vivo. Observo Coimbra e esta cidade (enquanto paisagem) não deixa de me surpreender sempre que a olho e a passeio. E espanto-me, sim, esta sua beleza causa-me espanto. E não preciso apanhar o avião, basta-me sair de casa, estacionar o carro e percorre-la a pé. Sabe bem subir a couraça, a de lisboa, ir olhando o rio, tão bem acompanhado, agora, pelo parque verde, ir subindo, ir revendo referências de outos tempos e ir tendo emoções destes tempos. Passar na josé falcão, rua que foi minha e que agora não é de ninguém porque não tem (quase) ninguém…subir mais um pouco e passear (agora) a universidade que, agora, me parece outra…naquela altura não havia carros, era só rua, só passeios, só ar, só estudantes, só residentes...algum silêncio! Descer até ao machado de castro, renovado e bem enquadrado nos lugares velhos, o terraço, olhar e ver até a vista alcançar. Voltar a descer e caminhar a sé velha, descer a quebra costas, ver como paredes renovadas albergam tantas outras coisas, coisas que tentam ser novas, ser dos novos tempos…o arco de almedina, sons que se soltam, ouve-se coimbra…os turistas, eu também, que olham, os quiosques, as livrarias, as lojas de lembranças, uma casa de fado, varandas com design, esplanadas, chapéus “de chuva” que ninguém segura e não aparam água mas que nos param a nós, os turistas, eu também. E chego à baixa. Que bonita está, e tem vida, gente que se sente que anda bem por ali andar, eu também.

Por hoje, deste passeio ficam apenas ténues referências a alguns dos seus monstros. Hoje venceu a bela!
 
Regresso ao carro. Neste pequeno passeio, viajei cá dentro e por dentro, fui turista na cidade onde vivo, cidade em que continuo a descobrir beleza passados mais de 30 anos …e só gastei 0,50€ (custo do estacionamento).






 

sábado, 13 de julho de 2013

Livros









Gosto dos livros. De ler, sim, mas também dos livros. Das histórias que lhes estão associadas antes e após a leitura, da rede de pormenores ou acontecimentos que me levaram ao momento em que tenho um livro (um autor, uma história) na mão. Só o livro em si, enquanto objeto, é já um enriquecimento - ainda que não o venha a ler (pouco provável mas não impossível) já carrega uma história. Se foi uma aquisição minha, o que me levou àquela opção? Por vezes foi uma alusão que li num artigo de jornal ou revista, que ouvi numa crónica da rádio ou numa reportagem da TV, uma recomendação de alguém no decurso de uma conversa, uma referência num filme ou outro livro. E, por vezes, ficam ideias ou referências soltas ou imprecisas, é preciso ir pesquisar. A Net, as livrarias. E, nestas pesquisas, descobrem-se tantas outras coisas, tantas outras obras, tantos outros autores. Como gosto desta procura! Esta procura passa a ser a história que antecede a outra que me propus ler. Passam a ser, já, duas histórias. E, se o livro foi uma oferta, é outra história, ou outras histórias. Diz-me de quem ma deu (e pode acontecer que nem a venha a ler mas, mesmo isso, é informação), em que circunstâncias, se numa comemoração ou para lembrar algo, se tem dedicatória…
Por vezes dá-me gozo abrir o armário, tirar os livros todos, a pretexto de os organizar por temas ou autores, e ir folheando. Revejo anotações ou dedicatórias, ou simplesmente datas, e relembro as histórias que lhes estão associadas. Algumas vezes estes gestos levam a segundas ou terceiras leituras. Nunca se lê o mesmo livro da mesma forma. No final da releitura retiramos outras histórias, outras emoções, outros conhecimentos (ou vamos em busca deles). Desta arrumação, também acontece surgirem livros que, estando ali há anos, não cheguei a ler. Dou-me uma segunda oportunidade. Confesso, por vezes, consigo ter boas surpresas e descobrir autores, ou obras, que a dada altura não me conseguiram cativar mas há também obras, e sobretudo autores, que por mais que tente…
 Gosto dos rituais que antecedem a leitura propriamente dita. Começar por tornar meu aquele livro, as minhas iniciais no verso da primeira folha e a data da compra ou da oferta. Consoante as circunstâncias, colocá-lo no local adequado, na estante se a leitura não é para já ou na mesa junto ao sofá para que na hora certa lhe dê a minha atenção. O primeiro toque, a textura da capa e das letras que a marcam, algumas em relevo, a sensação nos meus dedos, olhar onde e como colocaram o nome do autor, por vezes enche a capa, outras vezes está em letras pequeninas e é o título da obra que se destaca, o que dizem do autor, a sua foto, tentar decifrar ou apreender a dedicatória, quando a há, folhear, só folhear, sentir e ouvir o barulhinho das folhas a caírem umas sobre as outras e o cheiro que se solta.
Agora, sim, vou viajar. Vou conhecer pessoas e lugares, sentir cheiros (uns buscados na memória, outros imaginados), emocionar-me com descrições ou personagens, reler (tantas vezes) as passagens que mais me tocam. Hão-de vir ao de cima emoções já vividas, vou imaginar outras nunca experimentadas ou desejar nunca vir a conhecer. Gosto de apreciar a história propriamente dita, o seu desenvolvimento, a construção das personagens mas sobretudo a forma como a história é contada, é isto que me faz apreciar o autor, que me faz querer terminar o livro e ir em busca de outros. Gosto que o autor me dê oportunidade de participar na história, não descrevendo fisicamente, de forma exaustiva, as personagens, porque gosto de fazer as minhas construções e idealizações. Gosto que me faça criar expectativas e desejar voltar rapidamente à companhia deste livro. No final, posso até chegar à conclusão que já terei lido coisas melhores, no entanto, fica sempre como saldo positivo todos os pormenores ou acontecimentos que antecederam a leitura e os que poderão vir depois – a busca de um outro livro ou poema, um outro autor, um filme, lugares, um episódio histórico, um conceito…porque um livro tem muitas histórias agregadas e a melhor pode ser aquela que ainda não lemos…